O Batismo é o primeiro dos sacramentos, a porta de entrada na vida cristã e o sinal da nova aliança em Cristo. Por isso, desde os primórdios da Igreja, a prática do batismo de crianças é não apenas aceita, mas firmemente defendida. Neste artigo, exploramos as bases bíblicas, teológicas e tradicionais que sustentam essa prática, mostrando por que ela continua tão importante para a Igreja Católica.
Fundamentação Bíblica
O batismo infantil encontra sólido apoio nas Escrituras. Jesus afirma:
“Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus.” (João 3,5)
Este ensinamento expressa a necessidade universal do batismo para a salvação, sem excluir as crianças.
Além disso, São Paulo apresenta o batismo como a nova circuncisão:
“Fostes sepultados com ele no batismo…”. (Colossenses 2,11-12)
Assim como a circuncisão era administrada aos bebês, o batismo também deve ser conferido às crianças, que assim são inseridas no Povo de Deus.
Nos Atos dos Apóstolos e nas Cartas de São Paulo, vemos famílias inteiras sendo batizadas:
“Ele foi batizado com todos os seus familiares.” (Atos 16,33)
O termo oikos (grego para “casa”) inclui todos os membros, inclusive os menores. Isso mostra como a Igreja nascente já incluía as crianças no batismo.
Por fim, Jesus mesmo acolhe as crianças com amor:
“Deixai vir a mim as criancinhas… pois delas é o Reino de Deus.” (Lucas 18,16)
A graça e a pertença ao Reino são dons oferecidos também aos pequenos.
Argumentos Teológicos
A necessidade do batismo infantil se fundamenta na doutrina do pecado original. Como ensina São Paulo:
“Todos pecaram e estão privados da glória de Deus.” (Romanos 3,23)
Ainda que a criança não tenha pecado pessoal, nasce marcada pela natureza humana ferida. O batismo purifica, regenera e comunica a graça santificante.
Mas, alguém poderia objetar: como batizar quem ainda não tem fé consciente?
A resposta da Igreja é clara: a fé da comunidade supre a da criança. Pais e padrinhos assumem, em nome dela, o compromisso cristão. Como explica Santo Tomás de Aquino:
“As crianças são justificadas pela fé da Igreja, que é uma só em fé.”
(Suma Teológica, III, q.68, a.9)
Assim como os pais cuidam da saúde e da educação de seus filhos, também devem cuidar de sua vida espiritual.
A Tradição da Igreja
Desde os primeiros séculos, a Igreja batiza crianças, conforme testemunham diversos Padres:
• Santo Irineu (séc. II): “Jesus veio salvar todos, inclusive os recém-nascidos.”
• Orígenes (séc. III): “A Igreja recebeu dos Apóstolos a tradição de batizar crianças.”
• São Cipriano (séc. III): Defendeu o batismo desde o nascimento.
• Santo Agostinho (séc. IV-V): Reforçou essa prática contra os pelagianos, afirmando que a Igreja sempre batizou criancinhas.
O Concílio de Cartago (418) dogmatizou a necessidade do batismo infantil, reiterando a prática como universal e apostólica.
O Catecismo da Igreja Católica
O Catecismo atual confirma e reforça esse ensinamento:
“As crianças precisam também do novo nascimento no Batismo.” (§1250)
“Os pais cristãos reconhecerão que esta prática corresponde também ao seu papel de alimentar a vida que Deus lhes confiou.” (§1251)
Mesmo confiando à misericórdia de Deus as crianças que morrem sem batismo, a Igreja não deixa de insistir na urgência e necessidade deste sacramento.
Conclusão
O batismo infantil é uma expressão do amor proveniente de Deus, que oferece a salvação não como um prêmio pelos méritos humanos, mas como um dom gratuito. Ele é fundamentado na Sagrada Escritura, na tradição apostólica e na teologia sacramental.
A prática do batismo de crianças manifesta o cuidado amoroso da Igreja, que acolhe desde cedo os pequenos no seio da comunidade cristã. Como bem expressou Santo Agostinho:
“Se não negamos aos bebês o alimento, o abrigo ou o cuidado médico, por que os privaríamos da graça divina que os introduz no Reino de Deus?”
O batismo não é uma escolha opcional ou uma formalidade, mas um dom essencial, que confere à criança a dignidade de filha de Deus e membro da Igreja.